Por dentro da produção da Korin: o que significa frango sustentável e orgânico

“E a Korin, é mesmo assim tão melhor que as Sadias e Searas? Tem diferença entre a produção convencional de frangos e a deles ou é tudo enganação?”. Essas duas perguntas foram feitas por muita gente logo após a grande repercussão do meu post Jamie Oliver, Alex Atala e os frangos: o real cenário da criação de aves no Brasil. Como nunca havia ido a Korin, não podia responder.

Agora, eu posso.

Semana passada visitei a sede da Korin, localizada em Ipeúna, a 190 quilômetros da cidade de São Paulo. Entrevistei longamente Reginaldo Morikawa, Diretor Superintendente da marca, e fui a um aviário orgânico. Só não estive nos aviários não-orgânicos e de galinhas poedeiras, originalmente na programação, por ter me alongado demais na entrevista: mas já fui convidada a voltar. E voltarei.

Aviário de produção orgânica da Korin, perto de Ipeúna, no estado de São Paulo

Aviário de produção orgânica da Korin, perto de Ipeúna, no estado de São Paulo

Hoje, caso me perguntem se os produtos da Korin são mesmo melhores do que os da grande indústria, respondo com tranquilidade: sim, são. São melhores por uma ampla gama de razões que engloba bem estar animal, respeito pela cadeia produtiva e responsabilidade sócio-ambiental. São tão melhores, que até os garotos-propaganda das outras empresas usam Korin em seus restaurantes: as duas unidades brasileiras do Jamie’s Italian e o DOM, de Alex Atala, são clientes, ao lado da Enoteca Saint Vin Saint, Arturito, Capim Santo, Taka Daru, Kinoshita, Insalata, Spot…
O acesso a pátios externos, 100% do tempo, é mandatório na produção de frangos orgânicos

O acesso a pátios externos, 100% do tempo, é mandatório na produção de frangos orgânicos

Ótimo e prático exemplo de responsabilidade ambiental é o destino dado pela Korin ao resquício sólido do abate de aves, que na maior parte das empresas do setor vai parar em aterros sanitários, nos quais tem grande chance de contaminar solo e lençóis freáticos.

A unidade do grupo Korin dedicada a pesquisas – a Korin Preservação e Recuperação do Meio Ambiente – desenvolveu um mix de microorganismos que consome essa borra cinza da foto abaixo. Funciona assim: a água misturada a restos de penas, gordura e sangue que desce pelo chão da sala de abate é levada para um flotador, no qual ocorre a separação das partículas sólidas das líquidas através de injeções de ar. A parte líquida segue para a estação de tratamento de esgoto. A sólida, para tanques com bactérias e leveduras que convertem a matéria orgânica em gás carbônico. O resultado desse processo – já limpo pelos microorganismos – vai para compostagem e, depois, é vendido como adubo: a Korin não usa nenhum derivado de animal em suas terras ou rações.

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A Korin Preservação e Recuperação do Meio Ambiente desenvolveu uma mistura de microorganismos que consome essa borra cinza – mistura de sangue, penas e água que desce do chão da sala de abate – e a transforma em adubo

Foi também durante minha visita que conheci o Bokashi, a fórmula da Korin de fertilizante natural para lavouras. O Bokashi é composto por cerca de 10 gêneros e 80 espécies de microorganismos que vivem em solos naturalmente férteis, tais como leveduras, actinomicetos, bactérias produtoras de ácido láctico e bactérias fotossintetizantes. Não é agrotóxico nem pesticida, mas sim uma suspensão que promove maior disponibilização de nutrientes através da fermentação da matéria orgânica como farelos de grãos, aminoácidos e açúcares. Sem resíduos poluentes, sem metais pesados, sem contaminantes.

As ações reais da Korin em prol da sustentabilidade não param nestes dois itens (depois de anos de pesquisas, estão para lançar linha de sementes orgânicas), mas já que estamos aqui para falar de frango, falemos de frango.

O que é a Korin?

A Korin Empreendimentos e Participações é uma empresa brasileira criada em 1994 pela Igreja Messiânica, orientada pelos princípios da Agricultura Natural de Mokiti Okada, seu fundador. É composta pela CNM Construtora Novo Mundo, Jardinagem e Paisagismo; Korim Agropecuária; Kori Messiânica Alimentos; Korin Preservação e Recuperação do Meio Ambiente. Tem 173 funcionários, faturou R$ 108 milhões de reais em 2015 e reinveste todo seu lucro em si mesma.

Aves com 40 dias de vida em aviário de produção orgânica da Korin: com acesso a área externa e sol

Aves com 40 dias de vida em aviário de produção orgânica da Korin: com acesso a área externa e sol

A Korin só produz frangos orgânicos?

Não. O portfólio de produtos  – todos produzidos sem agrotóxicos e sem antibióticos – inclui Frangos AF (Antibiotic Free ou, em português, Sem Antibióticos), Frangos Orgânicos, Frangos Caipira AF, Ovos AF e Orgânicos, Carne Bovina Sustentável e Orgânica, linha de congelados de carne bovina e de aves sem antibióticos, mel orgânico, café sustentável e orgânico, arroz orgânico, feijão orgânico, óleo de soja orgânico, entre outros.

Para esclarecer: tanto as aves AF quanto as aves Orgânicas são alimentadas com ração 100% vegetal e jamais tomam antibióticos. As orgânicas, além disso, vivem em menor concentração por metro quadrado, com acesso irrestrito a área externa e sol, e comem ração preparada com grãos orgânicos.

Portanto, NEM TODO FRANGO E  OVO DA KORIN É ORGÂNICO: TODOS SÃO LIVRES DE ANTIBIÓTICOS. Sendo assim, fique esperto em restaurante que coloca no menu “frangos e ovos orgânicos: trabalhamos com Korin”: peça para ver a embalagem.Você vai ficar estarrecido com a quantidade de estabelecimentos que anda mentindo pros clientes!

Qual entidade certifica e fiscaliza a produção?

Depende da linha… vamos nos ater as aves. Atualmente, a Korin tem certificação da Bem Estar Animal da HFAC – Humane Farm Animal CareIBD Certificações (Instituto BioDinâmico (afiliada à IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements) e MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

A fiscalização é realizada pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal, órgão do Ministério da Agricultura), como em todos os abatedouros legais do país.

A Korin é proprietária de todos os aviários?

Não. A Korin trabalha no esquema fornecimento de infraestrutura, construção dos aviários, entrega de pintinhos, treinamento de pessoal, ração, logística de transporte dos animais vivos para o abatedouro (este, sim, próprio). São 29 produtores integrados, todos num raio de 70 km da sede da empresa, em Ipeúna.

Quantas galinhas/frangos vivem por metro quadrado?

Para as aves AF (sem antibiótico), o adensamento médio é de 30 quilos por metro quadrado, bem parecido com o convencional. Para as aves orgânicas, cerca de 12 kg por metro quadrado, com acesso livre a área externa. Em ambas as criações, os galpões tem temperatura controlada para que as aves não passem frio (caldeiras alimentadas com lenha de eucalipto de reflorestamento) nem calor (grandes ventiladores) e presença de luz solar. Não há poleiros; no caso das orgânicas, ficam livres para sair para o pátio.

Todas vivem sobre cama de frango – formada por casca de arroz, bagaço de cana, sabugo de milho e outros materiais vegetais-, que recebe os dejetos das aves, bem como os restos de ração que caem no chão. No caso da Korin, a presença do Bokashi na composição da cama a torna mais segura por fermentar a matéria orgânica, funcionando como uma espécie de limpeza de dentro da fora. O fato da ração ser 100% vegetal diminui e, muito, o forte cheiro típico dos aviários, aumentando o bem estar animal pela menor concentração de amônia no ar. Por conta da estabilidade microbiológica, a cama de frango é trocada apenas a cada 3 meses.

Todas as aves tomam antibióticos e hormônios?

Hormônios são proibidos no Brasil, tanto para aves quanto para bois, suínos, ovelhas, cabras. Não há a possibilidade de nenhuma empresa LEGAL oferecer hormônios para animais de corte sem sofrer punições gravíssimas do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Agora, quanto a antibióticos… Sim, são legais, contudo a Korin não os usa em nenhuma ave, tanto as de corte quanto as poedeiras. Também não utiliza quimioterápicos ou anticoccidianos. Isso só é possível por conta de um alto padrão de bem estar animal, ração de qualidade superior e muito treinamento para os granjeiros associados.

Área de restabelecimento de aves

Área de restabelecimento de aves

Toda semana um veterinário da empresa passa em cada granja a fim de supervisionar a produção e ensinar os funcionários a reconhecer os sinais de possíveis doenças (modo de andar da ave, mudança na cor dos olhos, apatia) e enfrentá-las, seja isolando os casos sem muita gravidade (até seu restabelecimento) ou abatendo a ave, em última instância. Há, por exemplo, área separada dentro do aviário para animais que não crescem na mesma velocidade dos outros e começam a apresentar dificuldade em alcançar comedouro e bebedouro. Uma espécie de ‘creche de galinha’.

Do que se alimentam?

Aqui está um dos grandes trunfos da Korin: a qualidade da comida dada as aves.

A empresa fabrica 2300 toneladas de ração por mês, composta 100% de insumos vegetais: nada de farinhas de origem animal. A ração da Korin leva milho, soja e adição de prebióticos, probióticos e óleos essenciais de plantas e ervas aromáticas (como canela, orégano e capim limão). Além de tornar a comida mais saborosa para as aves – garanto que o aroma é ótimo!-, os óleos ajudam na profilaxia do trato digestivo, tornando-as mais fortes e resistentes a doenças: e bichos saudáveis não precisam de antibióticos. Fitoterapia aplicada a agropecuária.

A ração da Korin leva milho e soja com adição de prebióticos, probióticos e óleos essenciais de plantas e ervas aromáticas (como canela, orégano e capim limão)

A ração da Korin leva milho e soja com adição de prebióticos, probióticos e óleos essenciais de plantas e ervas aromáticas (como canela, orégano e capim limão)

Se toda a ração é orgânica? Não, não é. E isso é algo que não agrada a Korin: “Ainda é muito complicado conseguir milho orgânico no Brasil, já que somos dominados por monoculturas de sementes transgênicas”, diz Reginaldo Morikawa, Diretor Superintendente da Korin. “Por isso começamos a plantar parte do milho orgânico que usamos – ano passado, produzimos 200 toneladas – e estamos fazendo um trabalho de conversão de pequenos produtores convencionais da região em produtores orgânicos”, conta.

Só que não é suficiente. Longe disso: a Korin teve que suspender por um tempo a produção de ovos orgânicos simplesmente porque não há milho orgânico para alimentar aves de corte E poedeiras. Por conta do gargalo na produção de grãos orgânicos, atualmente 90% dos frangos de corte da empresa são AF (lembra, né? Sem antibióticos mas com ração transgênica).

Na alimentação das aves da Korin não é permitido o uso de milhos quebrados - por serem entradas fáceis de doenças pela presença de fungos e bactérias.

Na alimentação das aves da Korin não é permitido o uso de milhos quebrados – por serem entradas fáceis de doenças pela presença de fungos e bactérias.

Orgânico ou transgênico, todo milho usado nas rações é passado por um separador (em dias alternados, depois de limpeza, para não haver contaminação!), que descarta os grãos quebrados: eles são uma imensa porta de entrada de bactérias e fungos que podem afetar a saúde das aves. Esse descarte – que representa 20% do volume total! – é vendido a preços baixíssimos para produtores de ração animal.

Ração e água ficam disponíveis para as aves 24 horas por dia.

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Os grãos quebrados são vendidos para produtores de ração animal

As aves vivem sob luz 24 horas por dias para comerem mais e engordarem mais rápido?

Não. As aves acordam com o nascer do dia e dormem pouco depois do por-do-sol.

Quanto tempo vive uma ave até ser abatida?

Os pintinhos chegam com um dia de vida ao aviário e são abatidos com 46 dias (AF e Orgânicos) e 72 dias (Caipiras).

Há muita mortandade no transporte dos animais vivos até o abatedouro?

Não, por conta da proximidade dos aviários ao abatedouro e por todo o deslocamento ser feito à noite para respeitar o bioritmo da ave, causando o menor estresse possível. E como disse no outro post, mortandade alta não anda junto com lucro.

Como é o abate?

A única maneira legal no Brasil para se abater aves é a desensibilização por corrente elétrica, como você pode ler AQUI.

As aves são penduradas em ganchos, pelos pés, e tem a cabeça mergulhada em água pela qual passa corrente elétrica alta suficiente para desacordá-la e baixa o bastante para não causar danos irreversíveis (hematomas ou morte). “Desmaiada”, tem o pescoço cortado manualmente, segue para a sangria, para a depenagem em água fervendo e para a retirada dos órgãos internos por uma mão mecânica.

Cada carcaça – com seus devidos orgãos colocados logo acima delas, numa grande linha de produção circular – é verificada por funcionários do SIF (Serviço de Inspeção Federal, órgão do Ministério da Agricultura), que procuram por sinais de bile, doenças e anomalias. Na fábrica há uma área demarcada para estes funcionários, com os quais os proprietários não podem interagir – a única pessoa autorizada a fazer a interface entre o SIF e a granja é um supervisor. A medida foi estabelecida como maneira de evitar possíveis fraudes e subornos.

Ao contrário do que virou lenda urbana, não há alguém rezando o tempo todo, no abatedouro, em louvor às almas dos animais mortos. O que existe é um um culto religioso anual em sufrágio aos animais sacrificados. Segundo site da empresa, “a Korin, por ser seguidora da Filosofia de Mokiti Okada, acredita que não só o homem, mas os os animais, os vegetais e todos os demais seres, têm espírito. E que estes animais, ao serem sacrificados para servir de alimento ao ser humano, estão servindo de instrumento para a concretização do Paraíso Terrestre a ser construído por este”.

O que se faz com toda a pena e sangue gerados no abate?

Gordura, aparas de carne e vísceras são processados na própria Korin, transformados em farinhas que são destinadas a formulação da ração de animais de estimação da linha Premier Seleção Natural.

Sangue e penas são vendidos a outras emepresas de alimentação animal.

Qual é o número de aves abatidas por dia?

Cerca de 22 mil aves. Lembra quanto é na Seara? 5.600.000. Isso dá uma dimensão do tamanho das empresas…

E tem mesmo mercado para esse tipo de produto? Aliás, quantos % mais caro ele é em relação ao convencional?

Opa, se tem. Nos últimos oito anos, a Korin cresceu 540%. No primeiro semestre de 2016, o crescimento foi de 29%. Cada vez mais gente quer saber como é feito o alimento que está em sua mesa. Cada vez mais gente não admite consumir itens provenientes de processos duvidosos e não sustentáveis. Cada vez mais gente sabe que vale pagar mais para comer bem e menos em médicos e remédios.

O valor de um frango orgânico é, em média, 100% maior do que um convencional. Ou seja: o preço de mercado da Sadia/Seara é o valor do custo de produção da Korin. Depois de ler esse texto, dá bem para entender a razão…

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